terça-feira, 6 de setembro de 2016

Acidente em 1953 em Bernardino de Campos

Meu avô, Luiz Vicente da Silveira sempre mencionou um acidente na década de 50, quando a caldeira de uma locomotiva a vapor explodiu a caminho de Bernardino de Campos. A explosão foi tamanha que o barulho foi ouvido no distrito de Lageado, pertencente à cidade de Óleo/SP, distante 13 km do acidente, onde meu avô residia com a família.
A explicação que correu para o povo, foi que a locomotiva estava com baixa pressão e o foguista forçou uma recuperação rápida da pressão.

Sempre tive curiosidade de saber o que ocorreu e num belo dia, apareceu a foto da locomotiva 1001 no Facebook, postada pelo amigo Vanderlei Antonio Zago. Foi esta locomotiva que explodiu neste acidente.
Locomotiva 1001 - Estrada de Ferro Sorocabana
Imagem postada no Facebook, por Vanderlei Antonio Zago.

As locomotivas da série 1000 da Sorocabana eram as maiores e mais potentes locos a vapor que rodaram na ferrovia. Foram compradas 22 unidades destas locomotiva, fabricadas pela ALCo (EUA) e Henschel & Sohn (Alemanha), entre os anos de 1929 e 1940.

Algumas informações complementares:
Modelo: Ten Coupled
Classificação: 4-10-2
Numeração série: 1000
Fabricante: ALCo (American Locomotive Co (EUA)
Quantidade de cilindros: 3


Locomotiva 1003, irmã da 1001. Dados técnicos.
Imagem de divulgação da ALCo.
Fonte: http://narrowmind.railfan.net/


O acidente ocorreu no dia 13 de Setembro de 1953, de acordo o Jornal "Folha de São Paulo", como relata abaixo:


Jornal Estado de São Paulo - Edição 22/Set/1953 - Página 7
Fonte: acervo.estadao.com.br

O acidente ocorreu no km 454, com a composição que vinha de Ourinhos, sentido Bernardino de Campos.

Fotos do acidente:
Fonte: http://www2.uol.com.br/debate/1391/cadd/cadd.htm

Fonte: http://www2.uol.com.br/debate/1391/cadd/cadd.htm

Fonte: http://www2.uol.com.br/debate/1391/cadd/cadernod01a.htm


O fato mais provável que poderia ter causado o acidente foi o mal uso do maçarico na caldeira.
A Sorocabana converteu estas locos para a queima de óleo BPF, ao invés de lenha ou carvão, na qual elas foram projetadas. Estas modificações eram comuns nas ferrovias, pois a escassez de lenha e o alto custo do carvão, importado de outros países, inviabilizava a operação. A modificação em si não teria problemas, desde que não ultrapassado o poder calorífico do combustível original. Para se ter uma ideia dos combustíveis, vê se abaixo a tabela do poder calorífico dos combustíveis:


Óleo BPF
9.600 kcal/kg
Carvão mineral (ótima qualidade)
6.833 kcal/kg
Carvão
5.429 kcal/kg
Lenha
4.670 kcal/kg



Foi detectado, posteriormente que algumas equipagens alteravam o maçarico para ganhar calor e com isso, gerar vapor mais rápido. Como a caldeira não havia sido projetada para suportar tal alteração de temperatura, fora dos parâmetros de construção, algumas falhas na estrutura física da caldeira ocorria.
Foi detectado em diversas caldeiras o azulamento do céu da caldeira, indicando que o calor estava ultrapassando os limites aceitáveis do material. A fadiga do material era questão de tempo. E foi assim! Algumas caldeiras apresentavam trincas e foram soldadas novamente, mas já não era o correto, pois apesar da solda ficar resistente, outro ponto de ruptura poderia aparecer, exatamente ao lado da solda, pela perda da tempera do material.
Com as sucessões de erros de conserto e o uso contínuo de uma fonte de calor fora dos
 padrões, acarretaram  mais dois acidentes, com a 1005 e 1008, citado logo abaixo.


Matéria no Jornal "A Noite", de 19/01/1954, página 8, sobre a explosão da locomotiva 1008.

Fonte: http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=348970_05&pagfis=22542&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#


Fonte: http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=348970_05&pagfis=22542&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#


Fonte: http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=348970_05&pagfis=22542&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#


Dedico esta postagem ao meu Avô, Luiz Vicente da Silveira (in memorian).